quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cárcere sem grades





Desejo embalar cabelos macios nos poros vazios da minha pele, encostar-te no meu peito serena; como um barco que sulca um fio de água atracando no cais sem o mais leve rumor ou lamento da brisa que o acolhe.

Não quero libertar-me desse amplexo fugaz, como um prisioneiro feliz e sem tempo que recusa a sua liberdade. Desejo sentir a tirania, um cárcere consentido numa singela trajectória da alegria.

Há uma angústia sem dor que me acolhe e persegue, um desalento afagado pela distância dos corpos entregues ao desejo insatisfeito. Insana essa vontade em que os amantes fazem expandir a volúpia insaciável do delírio quando a pele desmaia numa suave carícia.

Vejo-te criança, sentada num balouço atordoante de sorrisos, soam melodias diferentes, uma mesma língua, cruzam-se lábios que rasgam curtos passos de dança mas bocas abertas. Maravilhosa prisão, onde os corpos se deleitam em estados de tensão que se esbatem no paroxismo de um clímax sempre adiado.

Afinal existe um universo sem fraudes, a nuvem escura da tormenta afastou-se para o largo, longe, cada vez mais longe… agora entregam-se palavras nas bocas sem lei ou derrogação.

Não me afoguei no poço venenoso da dúvida, respiro livre no meu cárcere sem grades, sem sufocos ou angústias. Agora sinto os amantes num afago de amor feito de cadências melódicas…

Miguel Martins de Menezes

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