sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

RELATIVIDADE




Foi assim que nasceram, vinham ambos nus, caminhavam serenos de mãos dadas, na frente estendia-se um planalto de sombra e relva macia.
Viviam na nobreza da ignorância, de um tempo sem hora marcada, sem distância ou proximidade.

A natureza acolheu-os no silêncio discreto do farfalhar das árvores onde os frutos coloridos entonteciam e caíam submetidos à força da gravidade, o apelo da terra que pisavam.

Percorriam lagos e caminhos dourados de espigas de milho, todos colhiam nus as delicias das hastes maduras onde as sementes esperavam.

Não havia terra ou proprietário, nem muros ou cercas, eram livres como os pássaros, sem apelos ou disputas.

Era como uma bela miragem sem lugar, uma paisagem que não temia o luar, até mesmo à noite via-se a cor dos dias, num desprezo fortuito, desinteressado…

Assim caminhavam, lentos, num desapego do futuro, do presente ou de um passado inexistente, sem memórias beligerantes ou história.

Um dia no caminho aprenderam a viajar, colhendo na luz uma incerta velocidade, no presente encontraram um tempo esquecido onde já não resta lugar…

Miguel Martins de Menezes

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